Costumo deitar cedo, e levantar cedinho.
Ontem abri uma exceção
para assistir ao último debate dos candidatos à Presidência, antes do primeiro
turno. O debate terminou de
madrugada, mas valeu a pena, por
muitos motivos.
Na década de (19)50,
costumava acompanhar meu tio em muitas de suas atividades como presidente do
diretório municipal do Partido Democrata Cristão; participei da campanha de Antonio
Feliciano (1953), cujo vice prefeito Arthur Rivau, daquele partido. Posso dizer entretanto que minha primeira
lição, na política, foi em 1984, quando, retomada a
autonomia municipal participei da
campanha de Rubens Lara, e ajudei a redigir seu
programa de governo. Corri o risco de dizer ali que seriam mantidos em ordem os serviços
prestados pela Prefeitura. Obviamente, a
situação retrucou que Lara
estava elogiando o bom estado dos serviços municipais.
Em campanhas políticas
acontece assim: um candidato jamais pode reconhecer algum mérito no outro, e jamais
pode reconhecer algum erro ou demérito próprio. Essas situações serão
exploradas a seu dano e em favor do outro. Com isso, a verdade é
posta de lado.
No debate de ontem,
apenas num momento aflorou a sinceridade: foi quando Marina(PSB), deixando de lado a
pasteurização, fez um apelo quase patético a Luciana Genro (PSOL), dizendo mais
ou menos assim: - Por que você quer me
igualar aos candidatos “x” e “y”,
dizendo que eu apoio os banqueiros, quando você sabe que temos
tantas afinidades, e nossos programas são
tão parecidos?
Quando Marina dizia
trazer algo de novo na política, esse algo – que encantava de pronto – era ela mesma, sua história e sua
personalidade. Ao render -se entretanto, à lógica interna das
campanhas, e tanto mais quanto mais decaía nas
pesquisas, ela própria se desconstruía. Essa
pergunta, que Marina fez a Luciana, com as
mesmas razões Dilma (PT) poderia lhe ter feito. Ela rendeu-se à lógica interna
das campanhas, por exemplo, ao acusar Dilma de
haver aumentado os juros, quando na verdade aconteceu justamente o
contrário.
Não sei se algum dia a sagacidade,
a sedução e a retórica que são
utilizados nos debates serão substituídos
por outras virtudes, mais humanas e mais belas. Mesmo hoje, com todos os percalços,
ainda há lugar na política para
essas virtudes (depende da aprovação que a sociedade
efetivamente lhes conceda); se Marina não vencer,
como tudo indica, é importante que possa
criar o partido do seu coração, e exercer sua liderança a partir
de outras posições.
De todo modo, foi alto o nível
desse debate. Quase todos os candidatos mostraram-se preparados. A
participação de candidatos nanicos, que, por isso, são
eleitoralmente descomprometidos, enriquece a discussão; e a participação
de pândegos lhe confere
humor.
Com todos os seus
percalços – em que se incluem a
corrupção e o seu assédio pelo poder financeiro – a política hoje, e a
administração pública, estão muito melhores do que na década de
(19)50. Naquela época – e isso também
acontecia aqui em Santos – havia banditismo político,
com capangas pagos por candidatos.
Era assustador o nível do coronelismo. Se o coronel era dono
de tudo, dispensado de transparência e de contas, desconhecia-se, por exemplo, o
termo “corrupção”.
Vamos votar, certos de
que estamos trabalhando para a
construção de um Brasil melhor, onde tudo que estiver
na lei tenha sido previamente discutido e democraticamente aceito. A democracia,
como sabemos desde Churchill, é um regime extremamente imperfeito, mas
inigualavelmente superior a qualquer outro.
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