Julia Moretti, do
Escritório Modelo Dom Paulo, contraria declaração da prefeitura à CPI
dos Incêndios de que cadastro para moradia seria automático.
Por Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual
São Paulo – Uma advogada responsável por atender parte dos moradores
de favelas que perderam suas casas em incêndios afirma que nem todas as
vítimas são cadastradas em programas de habitação da prefeitura de São
Paulo, como informou esta semana a secretária-adjunta de Habitação,
Elisabete França. Durante depoimento à CPI dos Incêndios em Favelas em
funcionamento na Câmara Municipal, a secretária contrariou também a
versão mostrada por reportagens da RBA, que indicaram que a inscrição para receber uma moradia definitiva não é automática.
“Como é de praxe na prefeitura, quando eles dão atendimento, eles
entregam um termo de compromisso de atendimento, dizendo que você vai
receber em algum dia, em algum lugar, uma moradia definitiva”, afirma
Julia Moretti, do Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns, da PUC de
São Paulo. “O aluguel não tem documento. Eles recebem só um comprovante
para tirar dinheiro no banco”.
A advogada é responsável pelo atendimento jurídico das famílias
vítimas de incêndio na favela do Areião, ocorrido em agosto, e do
Moinho, em dezembro do ano passado e em setembro deste ano. De acordo
com Julia, o caso do Areião é mais grave porque "não houve qualquer
atendimento, nem provisório, nem definitivo”. Com a falta de
alternativa, a maioria das 92 famílias que perderam sua moradia voltou
para o local e reconstruíram suas casas, de alvenaria.
No Moinho, apenas parte das famílias foi inscritas para receber
moradia definitiva. “O cadastramento acabou deixando de fora algumas
famílias, que estão sem nenhum tipo de atendimento. É um problema de
operacionalização, mas que a prefeitura esta demorando para sanar, tanto
que o Ministério Público interferiu para que houvesse uma movimentação
para inclui-las.”
Quem conseguiu se cadastrar recebeu duas opções de moradia: uma na
Ponte dos Remédios, na zona oeste, e outra da rua do Bosque, no centro. A
primeira havia sido prometida verbalmente para os moradores e a entrega
seria em novembro deste ano. O prazo não foi cumprido e não há uma nova
estimativa de datas. A obra de construção das casas na rua do Bosque
ainda nem começou, pois o terreno em questão não é público, de acordo
com a advogada.
Na última reunião da CPI dos Incêndios em Favelas,
realizada na quarta-feira (12), Elisabete França afirmou que depois dos
incêndios todas as famílias foram cadastradas em programas de habitação
social. A RBA questionou o fato de que alguns
moradores entrevistados reclamarem que a prefeitura ofereceu apenas o
auxílio aluguel, no valor de R$ 300, por tempo determinado, sem
inscrição em um programa de moradia.
“Não procede porque a família que recebe aluguel recebe um termo de
atendimento habitacional. É um documento oficial da prefeitura dizendo
que era será inscrita em programas de habitação”, afirmou Elisabete.
“Todas as famílias são cadastradas a menos que elas não queiram. Isso é
normatizado pela legislação municipal: tão logo aconteça um desastre, a
família é cadastrada no mesmo dia”.
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