Da Agência Brasil
A Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São 
Paulo (Alesp), iniciada em 12 de fevereiro de 2012, encerrou na última quinta-feira (12) 
seu trabalho, apresentando relatório final em que pede – entre 150 
recomendações temáticas e 18 gerais – a punição dos agentes responsáveis
 por torturas, desaparecimentos e mortes durante a ditadura militar. O 
relatório final será encaminhado à Comissão Nacional da Verdade, ao 
Arquivo Público Nacional e ao Ministério Público Federal.
“Houve 
150 recomendações [finais], mas eu destacaria duas que motivaram a 
criação da Comissão da Verdade Rubens Paiva: a localização dos restos 
mortais dos desaparecidos para que as famílias possam dar um 
sepultamento digno e a punição aos torturadores de ontem e de hoje. O 
Brasil não pode manter a impunidade, sob pena de ser um Estado de 
constante violação dos direitos humanos”, disse Maria Amélia de Almeida 
Teles, coordenadora da assessoria da comissão estadual.
A 
comissão pediu que sejam revistas e aprofundadas as investigações sobre 
as mortes dos ex-presidentes da República João Goulart e Juscelino 
Kubitschek, já que, na visão de seus integrantes, há indícios de que as 
mortes tenham sido planejadas por agentes da ditadura. Recomenda também a
 desmilitarização das polícias, a criação de locais de memória dos 
desaparecidos políticos, bem como a criação de mecanismos de 
enfrentamento, prevenção e erradicação da tortura, de assassinatos e 
desaparecimentos forçados por agentes públicos, e que sejam devolvidos, 
simbolicamente, os mandatos dos deputados estaduais paulistas cassados 
durante a ditadura.
A comissão pede também que o Estado 
brasileiro crie políticas e mecanismos permanentes de reparação e 
indenização às vítimas das violações de direitos humanos cometidas por 
agentes da ditadura militar e a responsabilização civil e administrativa
 das empresas que contribuíram com o regime e a perseguição de 
trabalhadores.
Sugere também que sejam incluídos nos currículos 
escolares informações e reflexões sobre a ditadura e as consequências 
que ainda persistem. “Nossa maior recomendação é que as pessoas saibam o
 que foi a ditadura e quais suas consequências. Esse é nosso maior grito
 de alerta”, destacou o presidente da comissão, deputado Adriano Diogo 
(PT), que também foi preso e torturado na ditadura.
Para Amélia 
Teles, o trabalho da comissão foi baseado principalmente na busca pela 
verdade e deve ser perpetuado em outras instâncias. “O trabalho não pode
 se encerrar hoje. O Ministério Público Federal e demais órgãos públicos
 têm de colher esses relatórios – tanto esse [da comissão estadual] 
quanto da Comissão Nacional e de outras comissões – e tomar as 
providências jurídicas que permitam o devido processo legal dos acusados
 de tortura, assassinatos, estupros e desaparecimentos forçados”, disse 
ela.
“Para alcançar a verdade ainda falta muita investigação, a 
abertura dos arquivos militares e a cooperação, principalmente, do 
Ministério das Forças Armadas e das Relações Exteriores, que têm 
documentos fundamentais para o avanço das pesquisas e das 
investigações”, acrescentou ela.
O relatório final estará disponível na plataforma virtual Verdade Aberta.
 São 26 capítulos temáticos, 188 casos detalhados de pessoas mortas e 
desaparecidas, além de todas as recomendações e o conteúdo desenvolvido 
pelos grupos de trabalho. A plataforma é multimídia, com vídeos das 
audiências públicas, fotos e documentos levantados pela comissão, além 
de três livros publicados durante o trabalho da Alesp.
Presente à
 apresentação do relatório final da comissão estadual, o ex-coordenador 
da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, elogiou os 
trabalhos e disse que todas as comissões da verdade (legislativas, 
sindicais, setoriais, universitárias e outras que foram criadas em todo o
 país) "ajudaram a multiplicar o que já vinha sendo feito" pela CNV.
“As
 investigações que realizamos não começaram conosco e não vão acabar 
conosco. Vêm de antes, com os documentos contemporâneos da época em que 
as violações foram praticadas, e seguirá. Esses relatórios é que 
permitirão que pesquisadores nas universidades e nos movimentos sociais e
 a imprensa deem continuidade à investigação. Tenho segurança de que, 
nos próximos anos, muitas coisas vão ainda acontecer. No âmbito do 
governo federal, o que tem em discussão é a comissão de seguimento. O 
relatório da Comissão Nacional defende que haja continuidade do trabalho
 para que as recomendações possam ter acompanhamento por parte do 
governo”, disse Dallari.
 


 
 
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