As ossadas de Perus foram transferidas no último fim de
semana para a sede do Ministério Público Federal da terceira região de São
Paulo, na Bela Vista, no Centro da capital paulista. As ossadas ficarão
provisoriamente no local até serem encaminhadas para análise na Unifesp após
reforma e ampliação do espaço da universidade.
As ossadas foram descobertas em uma vala clandestina em 1990
do Cemitério de Perus, na Zona Norte. Inimigos do regime militar brasileiro
(1964-1985) foram enterrados no local como indigentes. Desde então, as análises
já passaram por duas universidades brasileiras, e perícias da polícia
científica do Instituto Médico Legal (IML). Antes, as 1.049 caixas localizadas
estavam guardadas no Cemitério do Araçá, na região Central. Ao todo, 614 caixas
foram trazidas para o MPF, outras 435 estão na Unifesp já sendo analisadas.
A estimativa é que 20 corpos sejam de presos políticos ou
desaparecidos durante o regime militar. As demais ossadas são de vítimas de violência da época ou indigentes.
Com o translado das ossadas exumadas de Perus, não há corpos guardados de forma
indevida.
"As ações que visam o direito à memória do que
aconteceu durante a ditadura e a busca da verdade são tarefas fundamentais de
um estado democrático. Isso é fundamental tanto para que a sociedade compreenda
a forma como a repressão se estabeleceu e a gente possa prevenir para fatos que
atentem contra a democracia como também é fundamental para a reparação
simbólica das vítimas da ditadura", afirmou o ministro Pepe Vargas da
Secretaria de Direitos.
Um laboratório internacional será contratado para
identificação das ossadas. O valor do contrato é de R$ 2 milhões. A contratação
de peritos nacionais e internacionais custou R$ 1,8 milhão. O MEC repassou R$
500 mil para a reforma do espaço que receberá os corpos na Unifesp.
"Nós estamos virando uma página, encerrando um processo
ao transferir as ossadas remanescentes que estavam sob nossa custódia",
afirmou o secretário municipal de Serviços Simão Pedro. O secretário anunciou
que construiu dois monumentos nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa para que
as famílias dos mortos e desaparecidos políticos possam homenageá los.
Com a transferência das ossadas, a perspectiva é que a
identificação das ossadas através da análise antropológica e do DNA seja
concluída até o início de 2017.
O coordenador científico do Grupo de Trabalho Perus, Samuel
Ferreira, do Ministério da Justiça, diz que inicialmente os peritos identificam
faixa etária, sexo e estatura. "Essas são informações extremamente
importantes porque sabemos se as características estão associadas aos desaparecidos",
declarou.
Segundo ele, das 435 caixas que estão na Unifesp, 375 foram
abertas e o conteúdo analisado indica que 80% correspondente a pessoas do sexo
masculino, 15% do sexo feminino e 5% de crianças e adolescentes. Foram
identificados traumas que podem ser vítimas de tortura ou violência.
De acordo com a procuradora da República Eugênia Augusta
Gonzaga e presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos políticos, a maior
parte das ossadas de Perus está intacta, no entanto, o fato de ter mais de um
corpo dentro de uma única caixa dificulta a identificação. "Já tem uma
ação civil em andamento, foi proposta em 2009, relatando esse esquema de
ocultação dos corpos nos cemitérios de Vila Formosa e Perus", disse.
A transferência dos corpos durou 4 dias e foi iniciado na
última quarta-feira (12) sendo concluída no fim de semana.
Foram abertos 46 nichos no Cemitério do Araçá e as caixas
foram retiradas do local. Todas as etapas foram fotografadas e as caixas
acondicionadas em sacos plásticos e lacradas. A Polícia Federal e uma equipe de
arqueologia acompanharam todo o processo de transporte.
As ossadas foram levadas para uma sala no subsolo da
Procuradoria onde não há variação climática.
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