quarta-feira, 1 de setembro de 2021

NOTA DE FALECIMENTO DO JORNALISTA DERMI AZEVEDO


Sísifo foi a personagem que o jornalista Dermi Azevedo usou para descrever o nosso ofício, como defensores e defensoras dos Direitos Humanos, aqueles que rolam a pedra, sem nunca chegar ao topo. Hoje, nessa quarta-feira, primeiro de setembro de dois mil e vinte e um, por volta das dez horas da manhã, nosso Sísifo nos deixou. Combateu a pandemia nesses quase dois anos, como se combate um guerreiro. Recluso em sua casa, ao lado da sua família, não tirou os olhos dos jornais e notícias que vinham de todas as partes, dando conta da tristeza que assola o nosso país. Ele se resguardava e, ao mesmo tempo, elaborava mil formas para que continuássemos atuantes na defesa dos Direitos Humanos. Viu pessoas próximas queridas partirem, em decorrência da pandemia, e bravamente vencia esse período de reclusão com a certeza de que muito estava por vir e precisava da sua força para reerguer esse país. Mas, o seu coração não suportou.

Na manhã de hoje, o jornalista e cientista político Dermi Azevedo faleceu, em consequência de um infarto fulminante.

Dotado de uma inteligência fora do comum, o potiguar Dermi Azevedo graduou-se em Comunicação Social/Jornalismo pela UFRN (1979); especializando em Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP(SESP). Mestre em Ciência Política pela USP, em 2001, com dissertação sobre o tema "Igreja e Ditadura Militar. Colaborações Religiosas com a Repressão de 1964". Doutor em Ciência Política pela USP, em 2005, com tese sobre "Igreja e Democracia. A Democracia na Igreja", sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Sérgio Pinheiro. Exerceu a profissão de jornalista desde 1967, tendo trabalhado como repórter, redator e editor, em várias revistas e jornais, realizado viagens profissionais ao exterior para cobrir temas ligados às suas pesquisas. Fez a cobertura de diversas viagens do Papa João Paulo II e de importantes eventos ligados aos Direitos Humanos e aos Movimentos Sociais. No serviço público, ocupou vários cargos e funções nos governos do RN e de SP.

Em SP, foi Assessor Técnico da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. Presidiu, de 1999 a 2009, o Conselho Deliberativo do Programa Estadual de Proteção às Testemunhas (PROVITA), integrou o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE). Foi um dos coordenadores do Programa Estadual de Direitos Humanos (SP). Foi um dos fundadores do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH). Em 2013 fundou o Núcleo Maximiliano Kolbe (NMK) de Direitos Humanos, onde presidiu, até o momento, com a mesma generosidade com que sempre atuou, defendendo que a formação básica em Direitos Humanos é um direito de todos e que qualquer cidadão (ã) pode atuar nessa causa, descobrindo-se em seus valores mais fundamentais.

Esses princípios basilares de respeito ao outro, à sua plena manifestação de ideias e a defesa inconteste de sua liberdade de expressão e da democracia nasceu ainda em sua juventude, quando atuante contra a ditadura civil-militar, implantada no Brasil em 1964, foi preso político em 1968, no 30 Congresso da UNE, em Ibiúna/SP e novamente em 1974, em São Paulo.

Dessa prisão resultou a sequela maior de sua vida, quando também seu filho, com 1 ano e 8 meses, foi sequestrado pelos agentes do Estado e levado para prisão, junto com ele e a mãe. Dessa prisão, violenta e totalmente arbitrária, vieram todas as consequências que levaram seu filho à morte, ainda jovem aos 31 anos.

Dermi, que sempre declarou não guardar rancor desse período nefasto da história do Brasil, que violou seus direitos constitucionais e dos seus, além de todas as vítimas da ditadura, sempre pronunciou fazendo memória ao filho Carlos Alexandre Azevedo, repetindo: "meu filho foi morto pelo sistema repressivo que mantém suas garras em vários ambientes". Seu alerta perpetua. Ficou exilado no Chile, após o cárcere e anistiado, retomou todas as suas atividades, especialmente junto aos amigos e companheiros, ex-presos políticos, numa admiração profícua e trabalho intenso, mesmo convalescendo com o Parkinson.

Assim seguiu o guerreiro Dermi Azevedo, conclamando que tomemos o rumo de nossa história em nossas próprias mãos e lutemos por justiça, sem deixar ninguém para trás.

Sua partida nessa data é também um reencontro com seu menino, que só queria brincar na sala de estar.

Deixa a sua amada esposa Elis Regina Almeida, seus filhos Joana, Daniel e Estevão, suas enteadas Paula, Fernanda, Julia Bethânia, netos e netas, parentes, amigos e amigas que o tinham como farol.

Por fim, deixamos o pensamento que ele repetia para nós e com o qual agora o honramos:

“Há aqueles que lutam um dia, e por isso são bons.
Há aqueles que lutam muitos dias, e por isso, são muito bons.
Há aqueles que lutam anos, e são melhores ainda, porém há aqueles que lutam toda a vida.
Esses são os imprescindíveis”. (Bertolt Brecht).

Velório: 02 / 09/ 2021
Horário: 10:00 às 12:00.
Sindicato dos jornalistas do Estado de São Paulo ( Rua Rêgo Freitas, 530, República, São Paulo).

Familiares e Amigos.

São Paulo, SP, 01 de setembro de 2021.

2 comentários: