domingo, 15 de maio de 2016

LUTO PARA NÓS É VERBO!

A República Federativa do Brasil vive o momento de maior farsa da sua história. A partir da última quinta-feira, a presidenta legitimamente eleita com o voto de mais de 54 milhões de brasileiros e brasileiras teve o seu governo suspenso, depois da aprovação do processo de "impeachment" no Senado. 

Trata-se de uma articulação golpista sórdida e espúria. A partir de uma denúncia realizada por advogados, baseada em um contorcionismo jurídico difícil de ser encontrado em algum centro acadêmico devido a tamanha fragilidade nos argumentos, o golpe foi aceito primeiro na Câmara dos Deputados sob a égide do então presidente da casa, o deputado Eduardo Cunha, do qual pesa seríssimas acusações e comprovações de corrupção, e depois no Senado sob a égide do presidente Renan Calheiros que também possui inúmeras denúncias de práticas ilícitas, tornando todos os que votaram a favor dessa inclassificável ação cúmplices (relembre os nomes de cada um: 367 GOLPISTAS DA CÂMARA e 55 GOLPISTAS DO SENADO). 

Diante desse nefasto cenário é necessário alguns apontamentos.

Não há como negar que o governo interino nasceu morto pela falta de legitimidade e por todos os contornos do qual Temer e seus pares apresentaram diante desse processo além de inúmeras atitudes, no mínimo, irresponsáveis fizeram com que o país vivesse, e continuará vivendo, o caos que se comprova no simbolismo do muro levantado em Brasília para separar os que eram a favor do golpe e os que eram contra o mesmo nos dias das votações.

Enganam-se aqueles que acreditam que esse muro ao ser retirado deixou de existir. Ele persistirá enquanto a ilegalidade estiver posta. Trata-se de um governo mergulhado em uma crise institucional gravíssima da qual ele é o maior responsável.

Outros responsáveis estão do lado golpeado, ou seja, o governo Dilma que se perdeu quase que completamente das origens trabalhistas, socialistas e progressistas do Partido dos Trabalhadores que, por sua vez, há muito optou por um caminho de conciliação rasteiro e sem limites para a existência da tal governabilidade. O que se comprovou ineficaz, irresponsável e frágil. Os velhos donos do país se tornaram companheiros sendo que nunca foram efetivamente e, dentro da conveniência dos seus interesses quebraram unilateralmente essa conciliação, atropelando como um trator o governo legítimo.

Ao mesmo tempo não há como deixar de reconhecer avanços importantes e fundamentais na área social realizados pelos governos petistas e que retrocederão décadas com os interinos golpistas.

Diante de tudo isso, os Advogados para a Democracia clamam para que essa esquerda que se referenciou a um único partido, o dos trabalhadores, realize a necessária autocrítica em nome de mais avanços e de transformações efetivas para o nosso país.

Claro está que não se pode coadunar com os conservadores dessa terra tupiniquim. Deles só é possível esperar o interesse pelo lucro pessoal, pela manutenção do poder sob ideologias conservadoras, entreguistas, do Estado mínimo e com a maquiagem de humanistas e democratas realizada, especialmente, por seus parceiros donos dos meios de comunicação de massa.

Por outro lado, chamamos a atenção para o ponto positivo da nefasta realidade que temos. Foi desnudada por completo qualquer afirmação de que a Constituição Federal de 1988 nos apresentou um novo modelo, uma nova República. Esta nunca passou de uma falácia. O Estado Brasileiro continua nas mãos dos mesmos grupos nacionais e internacionais que comandam o sistema capitalista com o apelido de globalização.

Diante de tão profunda miséria não nos resta o choro, mas sim a resistência e a luta diante da indignidade e do desrespeito ao povo brasileiro. 

Isso empurra a sociedade contrária ao conservadorismo à inexorável construção de novos modelos, novos e novas líderes, novos partidos, nova constituinte e, mais profundamente, de uma nova cultura sobre o que é política.

O Brasil precisa ser reconhecido pelo povo reciprocamente para que possamos avançar enquanto nação deixando para trás o absoluto atraso do qual defendem figuras como Temer, Renan, Cunha, Bolsonaro, Maluf e tantos outros e outras, não apenas no parlamento mas também no judiciário.

Que as referências sejam de Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Eduardo Suplicy, Luiza Erundina, Anísio Teixeira, Sérgio Buarque de Holanda e de tantos outros nomes que efetivamente lutaram e lutam pelo povo e, principalmente, de todos nós cidadãos e cidadãs. 

Há de surgir o pertencimento em cada um de nós através da participação direta e efetiva nesse processo com relação aos caminhos do nosso país.

Luto para nós é verbo!

O novo sempre vem e ele surgirá quando o status quo menos esperar!


COLETIVO ADVOGADOS PARA A DEMOCRACIA

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