terça-feira, 31 de dezembro de 2019

(RE)EXISTÊNCIA

"Temos que nos segurar ao que nós temos.
Não faz diferença se conseguiremos ou não.
Nós temos um ao outro e isso já é o bastante para o amor.
Nós vamos dar uma chance."


Mais um período escorreu entre os dedos.
Exatamente como inexoravelmente deve ser.
Não foi apenas mais um período mas sim, o período.  

Ele se junta a outros especialíssimos que a vida nos presenteou.

A imposição da sobrevivência que empurra todos nós para a cegueira, mais uma vez, perdeu.

Foi derrotada pela visceral e constante resistência em defesa da dignidade da pessoa humana.

Com (re)encontros belíssimos de companheiros(as) na mesma trincheira, a existência se mostrou absolutamente impávida, urgente e pulsante.

Locais improváveis com antigos e novos parceiros de (con)vivências surgiram tão necessários e belos quanto o sol após a maravilhosa e inigualável noite.

Se alguns focam as macro objetivas desviantes e confinantes, outros tantos não abrem mão do objetivo horizontal, humanizado e do bom combate. 

Aprendemos a reconhecer nossos defeitos e exaltar nossas qualidades naturalmente. 

Fomos condenados a seguir quebrando impetuosamente as algemas aparentemente invisíveis.

Não importa se está tarde ou cedo, mas apenas o que nos importa. Jamais nos abandonaremos porque sempre estaremos atentos ao cuidar reciprocamente.

Celebremos o simples e infinito agradecimento à vida por seguirmos respirando ares de humanidade juntos.

Há braços!

Coletivo Advogados para Democracia

terça-feira, 29 de outubro de 2019

COADE ESTARÁ NO VIII FÓRUM SOCIAL SUL


ATIVIDADES NA SANTOS MÁRTIRES - SSM.
    Rua Luís Baldinato, 9 – Jardim Ângela.




               < 29.10 (TERÇA-FEIRA) >
 
----- NOITE -----
Abertura do Fórum Social Sul: (Santos Mártires)
19-20h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
 
             < 30.10 (QUARTA-FEIRA) >
 
----- MANHÃ -----
Fórum dos Fóruns: Uma outra periferia é possível, necessária e urgente
(Fórum de Pesquisadores): 9h-12h - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Encontro de articulação dos fóruns do território
Circulo de saúde comunitária
(CSC-CIRCULO DE SAÚDE COMUNITÁRIA): 9h-10h30 - Local: SSM – Sala Irmã Dorothy
Experiência de "Atenção Psicológica e Educação Popular em Saúde Mental Integrada" na UBS Jardim Constância
Oficina de dança Hip Hop - Atividade Cultural
(Arco Associação Beneficente): 11h-12h - Local: SSM – Salão do Santuário
 
----- TARDE -----
Desmistificando os Conselhos Tutelares
(Conselho Tutelar M´Boi Mirim): 14h-15h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias SSM -
O papel e as atribuições do conselho tutelar. Público: crianças e adolescentes
Brincando daqui, brincando de lá: vamos reutilizar / Atividade Cultural
(Santos Mártires): 14h-15h30 - Local: Sala irmã Dorothy
Oficina de reciclagem e debate de sustentabilidade e meio ambiente
Banda Ouvindo Vozes - Atividade Cultural
(CEJAM): INTERVALO - 15h30-16h - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Apresentação musical
 
----- NOITE -----
A escrita como forma de cura
(Revista Amazonas): 19h-21h - Local: SSM – Sala Irmã Dorothy
Elaborando nossa trajetória, traumas e a violência machista por meio da palavra escrita. Público-alvo: Mulheres
Escrita Criativa para Mulheres Negras (Thaisa Juliana C. de Oliveira): 19h-21h - Local: SSM - Sala Inglês A escrita livre como caminho para nutrir os sonhos e enfrentar os medos e angústias
Parto Humanizado
(USP Leste): 19h-21h - Local: SSM - Sala Mova
Mulheres e homens debatem o parto humanizado
Pesquisa Social
(PUC e Santos Mártires): 19h-21h - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Resultados do curso realizado com jovens de M'Boi Mirim + Roda de conversa sobre desigualdades e juventude periférica
Encontro de saraus do território
(APOEMA e Rede Ubuntu): 19h-20h30 - Local: SSM - Salão do Santuário
Haverá intervenções artísticas durante o debate dos grupos de sarau


               < 31.10 (QUINTA-FEIRA) >
 
----- MANHÃ -----
Feira Solidária
(AMESOL, MMM, Ninho da Esperança, Arco Associação Beneficente, CEJAM)
9h-17h - Local: SSM - Espaço Externo / Venda de produtos artesanais
Seminário - Saúde Reprodutiva (CEJAM)
09h-12h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Ascensão de casos de gestação na infância e adolescência e DSTs
Oficina de Compostagem (OS Monte Azul - PAVS)
9h-10h30 - Local: SSM - Salão do Santuário
Como reduzir nosso impacto ambiental por meio da compostagem?
Cultura, Educação e Direitos Humanos (Mediação Ruivo Lopes)
09h-10h30 - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
Práticas transversais sobre os temas cultura, educação e direitos humanos
As violências e suas construções
(OS Monte Azul): 9h-10h30 - Local: SSM - Sala Inglês
As construções subjetivas, políticas, econômicas, sociais e culturais da violência
Lugares, lutos e lutas
(INCIDIR-USP): 9h-11h - Local: SSM - Sala Mova
As lutas dos moradores do território + oficina de mapas
Coragem Contagiosa: o que queremos para todo o Brasil
(Anistia Internacional): 11h-12h30 - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
Práticas e reflexões em direitos humanos
Lançamento do livro "Flores para Inês" - Atividade Cultural
(Santos Mártires): 11h-12h30 - Local: SSM - Espaço Externo
Conversa com o autor sobre o modo de vida do povo na periferia


----- TARDE ------
Seminário de Inclusão
(Fórum da Inclusão): 14h-17h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Discussão sobre os avanços e desafios para as pessoas com deficiência em M'Boi Mirim
Para que os Direitos das Mulheres não virem lenda
(Santos Mártires): 14h-16h - Local: SSM – Salão Casa Sofia
A violência doméstica e suas consequências. Onde buscar ajuda no Jd. Ângela e São Luís, Campo Limpo e Capão Redondo
Como podemos enfrentar o uso de drogas?
(CEJAM): 14h-15h30 - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
História do uso de trocas no Brasil e debate sobre alternativas de enfrentamento
Comida e feminismo: a agroecologia como resistência ao agronegócio
(SOF Sempreviva Organização Feminista): 14h-15h30 - Local: SSM - Sala Inglês
As experiências de agricultoras periféricas de SP e grupos de consumo com agricultoras quilombolas/Vale do Ribeira
Bordando nas Bordas / Atividade Cultural
(Coletiva Tear&Poesia de Arte Têxtil): 14h-15h30 - Local: SSM - Sala Mova
Exposição artística, exibição de DVD e lançamento do livro e calendário
Cooperativismo e geração de renda
(Cooperativa Hab. Central do Brasil - COOHABRAS): 16h-18h - Local: SSM - Sala Inglês
O cooperativismo como alternativa econômica para as famílias de baixa renda efetivarem seus direitos sociais
Cuidado Integral e Terapia Comunitária
(Santos Mártires e SIMCICAF): 16h-18h - Local: SSM – Sala Irmã Dorothy
Economia Feminista e Solidária
(AMESOL): 16h-18h - Local: SSM - Sala Mova
Troca de experiências sobre a economia solidária feminista


------ NOITE ------
Espetáculo Teatral - Francisca Travessia - Atividade Cultural
(Grupo Identidade Oculta):
18h30-19h Local: SSM - Espaço externo ou Auditório Santo Dias
Feminismos, Resistências e Lutas das Mulheres
(CDCM Mulheres Vivas, Marcha Mundial das Mulheres, Fundação Julita):
19h-21h - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Feminicídios + As lutas atuais das mulheres e os processos de auto-organização diante as transformações da sociedade + O corpo feminino e os espaços públicos
Meritocria x Democracia: Como essa relação afeta o nosso Direito?
(COADE - Coletivo de Advogados para a Democracia): 19h-21h - Local: SSM - Sala Inglês
A naturalização da violência na sociedade
O enfrentamento do racismo e genocídio dos jovens negros e indígenas das periferias (Quilombo Invisível): 19h-21h - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
Partilha de experiências da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio e da Frente Estadual pelo Desencarceiramento em SP.





              < 01.11 (SEXTA-FEIRA) >
 
----- MANHÃ ------
Feira Solidária
(AMESOL, MMM, Ninho da Esperança, Arco Associação Beneficente, CEJAM)
9h-17h - Local: SSM – Espaço Externo / Venda de produtos artesanais
Espetáculo Teatral – Kalunga Grande. Rios de Sangue. Corpos Negros Jogados ao Mar
(Grupo Identidade Oculta e Espaço Cultural Cazuá)
9h-9h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
A resistência e a luta pelas vidas nas periferias
(Fórum em Defesa pela Vida): 9h30-12h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
"Ninguém mete a colher": um debate sobre masculinidade
(INOVA): 9h-11h - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
O enfrentamento da violência doméstica na região sul a partir da ótica masculina
Oficina de estêncil - Atividade Cultural
(CEJAM): 9h-10h30 - Local: SSM - Sala Mova /Faça sua própria camiseta.
Agricultura Urbana na região da M'Boi Mirim
(Fórum das Águas, Coletivo Dedo Verde, CEAPG - FGVSP)
11h-12h30 - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
Lançamento de vídeo fruto de uma pesquisa realizada durante três anos no território
Sexualidade na Adolescência
(OS Monte Azul): 11h-12h30 - Local: SSM - Sala Inglês
O direito ao desenvolvimento saudável da sexualidade de adolescentes.
 

----- TARDE ------
O que faz da casa um lar?
(NUPRAD/ PUC-SP): 14h-17h30 - Local: SSM - Auditório Santo Dias
Reflexões sobre a contradição entre direito à moradia e as habitações precárias das periferias urbanas
A prevenção do suicídio de jovens
(Plan Internacional Brasil): 14h-16h - Local: SSM - Sala Irmã Dorothy
A importância da saúde emocional e do respeito as diversidades das juventudes.
Oficina de Mapeamento Participativo
(FGV SP): 16h-18h - Local: SSM – Sala Pe. Ezequiel (1º Andar)
Capacitação em mapeamento participativo na plataforma Open Street Map. Público: Moradores de M'Boi Mirim
Oficina Construa vasos com garrafas PET - Atividade Cultural
(Verde & Água Sustentabilidade): 14h-15h30 - Local: SSM - Sala Mova
Reaproveite materiais e crie vasos para plantas ornamentais e temperos
Black Power: quem foi que disse que meu cabelo é ruim?
(Coletivo IFE): 14h-15h30 - Local: SSM - Sala Inglês
Rima Arco - Atividade Cultural
(Oficina de Rima Arco): INTERVALO - 15h30-16h - Local: SSM - Espaço Externo
Alunos compartilham suas criações
Mobilidade Urbana
(Mov. pela melhoria do transporte da região): 16h-17h30 - Local: SSM - Sala Mova
A questão da mobilidade urbana na região de M’Boi Mirim
Assistência Social, Territórios e Famílias
(Santos Mártires e SIMCICAF): 16h-17h30 - Local: SSM – Irmã Dorothy
A precarização da Assistência Social como política pública e o esvaziamento dos eixos território e família
Blocos de Carnaval M' Boi
(Redes de Blocos de M'Boi Mirim): 16h-17h30 - Local: SSM - Sala Inglês
Lançamento da rede de blocos de rua de M'Boi Mirim com intuito de potencializar e fortalecer esses coletivos da região
 

----- NOITE -----
ENCERRAMENTO
Blocos de Carnaval M’Boi Mirim
19h-20h30 - Local: SSM


                   < 02.11 (SÁBADO) >

 
24ª. Caminhada pela Vida e pela Paz
8h-12h – Largo Jd. Ângela / Santos Mártires até Cemitério São Luiz
8h-12h – Largo Nossa Senhora do Carmo / Capão Redondo até Cemitério São Luiz
8h-12h – CEU Casa Blanca / Jd. São Luiz até Cemitério São Luiz


 ATIVIDADES EM OUTROS ESPAÇOS

           < 30.10 (QUARTA-FEIRA) >

 
----- TARDE -----
Ato 40 anos do assassinato de Santo Dias
(Comitê Santos Dias): 14h - 17h. Local: Rua Quararibeia, altura n.200 e depois caminhada até o cemitério Campo Grande seguida de celebração
Oficina de encadernação de livros (Editora FiloCzar)
14h-16h - Editora FiloCzar - Rua Durval Guerra de Azevedo, 511 - Pq. Santo Antônio
A proposta é apresentar os vários tipos de encadernação de livro e como podem ser feitas de modo artesanal
Feira Solidária UBS PNSA e comunidade em geral
(PAVS CEJAM): 14h-17h - AMA/UBS Pq. Novo Santo Amaro - Rua Porta do Prado, n. 18
Feira de artesanato com exposição de artesanatos confeccionados pelo grupo de artesanato
Alimentação saudável nos primeiros aos de vida
(Fundação Julita): 14h-15h30 - Rua Nova Tuparoquera 249 - Jd. São Luiz
Oficina sobre alimentação saudável nos primeiros anos de vida e enfrentamento da desnutrição infantil.
Desafios das pessoas idosas no território
(UPM // NCI - Vida Ativa.): 15h-17h. Local: Rua Maria Blanchard, 248 – Capão Redondo
A perca de direitos e as dificuldades dos idosos
Oficina de Dança para a Terceira Idade
(UPM // NCI Campo Limpo): 16h-17h30 - Local: Rua Martinho Vaz de Barros, 538 – Campo Limpo // Atividade Cultural


             < 31.10 (QUINTA-FEIRA) >

 
----- MANHÃ -----
Paulo Freire Vive! Círculos de Experiências Periféricas (CDHEP)
9h-17h - CDHEP - Rua Dr. Luís da Fonseca Galvão, 180 - Pq. Maria Helena
CDHEP em parceria com A Banca, Macambira Sociocultural e Rede Ubuntu.
Programação detalhada: www.cdhep.or.br/paulofreirevive
Dança Circular (OS Monte Azul)
9h-10h - CAPS AD II – Jd. São Luiz - Rua Luciano Silva 179 - Vila das Belezas
A tradição, interação e união por meio da dança terapêutica
Ginástica Comunitária (PAVS)
9h-10h - Centro Pastoral São Marcos - Rua do Tom Maior, sn - Jd. Santa Margarida
Atividade física de grau moderado destinada a faixas etárias variadas
Drogas: desconstruindo mitos (OS Monte Azul)
11h-12h - CAPS AD II Jd São Luiz - Rua Luciano Silva 179 - Vila das Belezas
O uso de drogas a partir da perspectiva biopsicossocial


----- TARDE -----
O germinar da vida: oficina de flores e contação de história
(OS Monte Azul): CAPS AD II Jd São Luiz - Rua Luciano Silva 179 - Vila das Belezas
Oficina de flores com contação de histórias e exposições artísticas
Saúde da Mulher
(UPM): Casa da Mulher e da Criança - Rua Zacarias Mazel, 128 – Jd. Mário Sampaio
Desconstrução dos paradigmas de opressão sobre a saúde das mulheres
Envelhecer saudável: direitos e deveres
(UPM / NCI Jd. Rebouças) - Rua Lourenço Saporito, 124 - Jd. Ana Maria
Partilha de experiências
 

----- NOITE -----
Batalha de Rima/Atividade Cultural (Associação Beneficente Juacris Jd. Rosana)
18h - Rua Reverendo Peixoto da Silva, 121 - Jd. Rosana.
A Força de se estar vivo e poder contar nossa própria história


              < 01.11 (SEXTA-FEIRA) >

 
----- MANHÃ -----
Paulo Freire Vive! Círculos de Experiências Periféricas (CDHEP)
9h-17h - CDHEP - Rua Dr. Luís da Fonseca Galvão, 180 - Pq. Maria Helena
CDHEP em parceria com A Banca, Macambira Sociocultural e Rede Ubuntu.
Programação detalhada: www.cdhep.or.br/paulofreirevive
Violências no parto contra as mulheres negras (CDCM Mulheres Vivas)
11h-12h30 Local: CDCM Mulheres Vivas. Rua Martinho Vaz de Barros, 257
As mulheres negras são as que mais morrem nos partos. O afeto e o cuidado frente as situações de violência obstétrica
Alimentação saudável (CEJAM)
9h-10h30 - UBS Parapanema - Rua Pietro da Milano, 100
Oficina de alimentação saudável por meio do uso de temperos naturais

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

HOJE EU FUI CENSURADO EM UM PONTO DE CULTURA



Inacreditável, metade das participantes eram apoiadoras de Bolsonaro e não queriam a minha presença, mesmo tendo o convite partido deles.

Há mais de uma década, quando eu estava como secretário da Cidadania Cultural, no extinto MinC, conheci o trabalho delas, as incentivei a tornarem-se Ponto de Cultura. Participaram de edital de seleção, foram aprovadas e receberam recursos que permitiram que estruturassem o trabalho; foi a única vez que puderam contar com verba federal. Nunca, jamais perguntamos qual era a orientação política delas, ou lhes foi pedido qualquer tipo de apoio além de retribuírem à comunidade o apoio federal que recebiam. Como fizemos com todos os 3.500 Pontos de Cultura, espalhadas por 1.100 municípios, sempre receberam tratamento republicano e respeitoso.

Os anos passaram e fui acompanhando o trabalho à distância; quando perguntado dava boas referências, nada além disso, nada demais, nada diferente do que fiz e faço em relação a tantos Pontos de Cultura espalhados pelo Brasil, também pela América Latina. há algumas semanas fui convidado a participar de um debate neste local, aceitei e fui graciosamente, sem nada cobrar, viajando de São Paulo a Campinas em meu próprio veículo. Ir a Campinas sempre é bom, minha cidade natal, em que vivem meus pais e nasceram minhas filhas. Qual minha surpresa, quando ontem ligam para mim, pedindo para que eu não falasse do Bolsonaro ou de política no debate. Respondi que o convite partiu deles e que sempre que vou a um debate sobre cultura, falo sobre cultura. E cultura envolve ética, estética, ecologia, afetos, arte…; era disso que eu falaria, como acontece em centenas de conferências que realizo pelo Brasil e pelo mundo. Nos últimos anos, mais pelo mundo que pelo Brasil.

Quando cheguei, o ambiente era de constrangimento. Poucas pessoas presentes e novamente a recomendação para que não falasse de “política”. Como se eu tivesse ido para lá com intuito específico de falar sobre esse estrupício que ocupa a presidência – rs. Eu fui para falar de arte, de cultura, de ideias e filosofia, mais especificamente sobre o lúdico e as brincadeiras infantis, tema que estudo há anos e tenho livro sobre o assunto. Foram delicadas, eram senhorinhas, mas que horror! Eu estava sendo censurado por um Ponto de Cultura, antes mesmo do debate começar.

Respondi que preferia desmarcar e ir embora. Afinal, “quando se entra em uma sala e há dez nazistas, ou você se retira imediatamente, ou logo haverá onze nazistas na sala”, e eu não queria estar presente numa sala daquelas. Antes de me retirar, porém, criei uma história infantil e disse para a coordenadora que havia preparado para o debate, já que a especialidade delas é cultura da infância.
Comecei a contar a história, já na porta de saída:

“Era uma vez, em um reino não tão distante, um homem que queria ser rei, e uma gente que o via como rei. Queriam tanto que ele fosse rei que esqueciam-se de todas as regras básicas de convivência e civilidade. Tinham muito ódio e amargura no coração. E assim desejavam construir o seu reino: com ódio e amargura. Detestando todos os que pensavam e agiam de forma diferente, censuravam e perseguiam pessoas.

Queriam um reino, não para construir, mas para destruir, queimar, matar. Até o sinal da cruz, que faziam antes, em respeito ao antigo Deus que havia sido morto sob tortura, havia sido substituído por um sinal de arma com a mão, em homenagem ao novo Deus.

Nesse lugar, que eles queriam transformar em reinado, havia uma floresta exuberante. A detestavam, assim como detestavam os habitantes da floresta, indígenas, caboclos, as onças, os papagaios e periquitos, também detestavam os macacos e as araras. Consideravam as árvores coisa inútil, a ser derrubada para dar lugar a pasto, plantações e garimpos. Para agilizar seu intento, foram amordaçando as pessoas responsáveis pela conservação da floresta, perseguindo cientistas, ambientalistas.
E bradavam: a floresta é nossa, faremos dela o que quisermos! Agora o reino é nosso!

Até que puseram fogo na floresta. Criaram um dia em homenagem ao homem que queria ser rei: o dia do fogo! Foi fogo para todos os lados. A floresta ardia em chamas. E os bichos que a habitavam eram todos queimados, junto com as árvores. Macaquinhos saiam pulando com os pelos em brasa, um tamanduá abria os braços em desespero, já com os olhos cegados pelo fogo, araras, periquitos e jandaias, voavam com as penas queimando.

Mas lá, naquele lugar tão idílico, havia um Ponto de Cultura que se dizia ECO, que construía brinquedos e se fazia de bondoso, mas que, no fundo, por omissão, cumplicidade ou apoio, fazia coro aos que urravam: Queima! Taca fogo! Mata!”

É isso que significa a normalização dos absurdos que estamos vivendo no Brasil, por mais gentis que pareçam ser as senhoras que nos recepcionam. Terminei de contar a história e fui embora.
Mas, ao dar um passo, decidi contar outra história. Em pensamento rápido, imaginei uma forma de finalizar minha participação na porta daquele Ponto. Até porque foi naquela porta que me disseram que muitas estavam insatisfeitas com minha presença por eu haver trabalhado com o ex-presidente Lula. Como aquelas senhorinhas diziam gostar tanto da cultura infantil, escolhi a história do herói do Mito delas. Contei assim:

“Era uma vez, um herói. O herói do herói delas. O nome dele era Ustra e ele combatia perigosos comunistas. Vivia nos porões, a defender “cidadãos de bem”. Certa vez ele buscou duas criancinhas, uma menina e um menino, ela com cinco anos e ele com três. Levou-os para passear no porão e, colocando-as no colo, fez com que assistissem os pais sendo torturados.”

Já que se dizem cidadãs de bem, defensoras da ecologia e das crianças, resolvi brindá-las com a ampliação do repertório e sugeri para que contassem para as próximas turmas de crianças que recebem, junto com a história da floresta queimada. Ainda disse: Se quiserem posso dar mais alguns detalhes da sessão de tortura, também de como esse “herói” gostava de introduzir camundongos na vagina das moças que torturava.

E fui embora, para não mais voltar.

Na volta, de Campinas para São Paulo, na estrada, fiquei pensando se seria o caso de registrar esse infeliz momento. Eu sou convidado para ministrar conferências pelo mundo todo, tenho encontros com governos das mais variadas orientações políticas, presidentes de repúblicas, ministros, prefeitos, governadores, converso com empresários, tive vários encontros com o Papa Francisco. Sempre buscando convergências pelo bem comum. Mas nunca me vi numa situação dessas, sendo censurado antes de iniciar um debate, ainda mais em minha cidade de origem!

O Brasil vive tempos horríveis, mas pior que a opressão dos poderosos, é a assimilação da opressão em nosso cotidiano, banalizando o mal. Mas vamos resistir!

Para quem se sente fraquejando, adoecendo por viver em uma sociedade doente, deprimido por conviver com tanta estupidez, aturdido em meio a tantos absurdos, tanto cinismo, tanta mentira, deixo a lembrança mais que necessária para os dias atuais: a vida nos pede coragem!

PS – Preferi não expor o nome do Ponto de Cultura, elas sabem o que fizeram e isso basta, quem sabe até reflitam sobre as historinhas infantis que lhes contei. E os demais Pontos de Cultura sabem que não generalizo e que confio que ainda vai brotar um Brasil generoso depois desses tempos de maldade, porque “essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, de todos nós!”


Célio Turino é historiador e escritor.

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