Os leitores que acompanham este
blog sabem que buscamos relembrar datas históricas que marcaram a humanidade e, em
especial, a América Latina. Hoje voltamos a fazer isso.
Nunca é demais conhecermos o
passado. É através dele que enxergamos o presente e vislumbrarmos o futuro. Só
assim será possível identificarmos humanistas e terroristas.
Há exatos 42 anos, ocorria um
golpe militar no Chile.
A mando do governo terrorista
norte-americano, o assassino general Pinochet e seus comandados comparsas, covardes e traidores, derrubaram o governo de Salvador Allende Gossens, legitimamente
eleito pelo povo e assassinaram o presidente chileno ao bombardearem o palácio
presidencial.
A partir deste momento foi
implantada uma ditadura militar sanguinária sendo uma das piores existentes
naquele período na América do Sul.
Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me
a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas
palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para
quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o
almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza,
general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao
Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.
Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores:
Não vou renunciar!
Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade
ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à
consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada
definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os
processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem
os povos.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que
sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas
intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que
respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a
vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo,
unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua
tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante
Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos
livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à
camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as
crianças.
Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que
continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações
profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma
sociedade capitalista.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu
espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual,
àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos
presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias
férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles
que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranquilo de minha
voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre
estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que
foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não
deve se deixar arrasar nem tranquilizar, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino.
Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição
pretende impor-se.
Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes
alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile!
Viva o povo!
Viva os trabalhadores!
Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu
sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição
moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.