quarta-feira, 19 de agosto de 2015

OSSADAS DE PERUS SÃO TRANSFERIDAS TEMPORARIAMENTE PARA PRÉDIO DO MPF


Do G1

As ossadas de Perus foram transferidas no último fim de semana para a sede do Ministério Público Federal da terceira região de São Paulo, na Bela Vista, no Centro da capital paulista. As ossadas ficarão provisoriamente no local até serem encaminhadas para análise na Unifesp após reforma e ampliação do espaço da universidade.

As ossadas foram descobertas em uma vala clandestina em 1990 do Cemitério de Perus, na Zona Norte. Inimigos do regime militar brasileiro (1964-1985) foram enterrados no local como indigentes. Desde então, as análises já passaram por duas universidades brasileiras, e perícias da polícia científica do Instituto Médico Legal (IML). Antes, as 1.049 caixas localizadas estavam guardadas no Cemitério do Araçá, na região Central. Ao todo, 614 caixas foram trazidas para o MPF, outras 435 estão na Unifesp já sendo analisadas.

A estimativa é que 20 corpos sejam de presos políticos ou desaparecidos durante o regime militar. As demais ossadas são de  vítimas de violência da época ou indigentes. Com o translado das ossadas exumadas de Perus, não há corpos guardados de forma indevida.

"As ações que visam o direito à memória do que aconteceu durante a ditadura e a busca da verdade são tarefas fundamentais de um estado democrático. Isso é fundamental tanto para que a sociedade compreenda a forma como a repressão se estabeleceu e a gente possa prevenir para fatos que atentem contra a democracia como também é fundamental para a reparação simbólica das vítimas da ditadura", afirmou o ministro Pepe Vargas da Secretaria de Direitos.

Um laboratório internacional será contratado para identificação das ossadas. O valor do contrato é de R$ 2 milhões. A contratação de peritos nacionais e internacionais custou R$ 1,8 milhão. O MEC repassou R$ 500 mil para a reforma do espaço que receberá os corpos na Unifesp.

"Nós estamos virando uma página, encerrando um processo ao transferir as ossadas remanescentes que estavam sob nossa custódia", afirmou o secretário municipal de Serviços Simão Pedro. O secretário anunciou que construiu dois monumentos nos cemitérios de Perus e da Vila Formosa para que as famílias dos mortos e desaparecidos políticos possam homenageá los.
Com a transferência das ossadas, a perspectiva é que a identificação das ossadas através da análise antropológica e do DNA seja concluída até o início de 2017.

O coordenador científico do Grupo de Trabalho Perus, Samuel Ferreira, do Ministério da Justiça, diz que inicialmente os peritos identificam faixa etária, sexo e estatura. "Essas são informações extremamente importantes porque sabemos se as características estão associadas aos desaparecidos", declarou.

Segundo ele, das 435 caixas que estão na Unifesp, 375 foram abertas e o conteúdo analisado indica que 80% correspondente a pessoas do sexo masculino, 15% do sexo feminino e 5% de crianças e adolescentes. Foram identificados traumas que podem ser vítimas de tortura ou violência.

De acordo com a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos políticos, a maior parte das ossadas de Perus está intacta, no entanto, o fato de ter mais de um corpo dentro de uma única caixa dificulta a identificação. "Já tem uma ação civil em andamento, foi proposta em 2009, relatando esse esquema de ocultação dos corpos nos cemitérios de Vila Formosa e Perus", disse.

A transferência dos corpos durou 4 dias e foi iniciado na última quarta-feira (12) sendo concluída no fim de semana.

Foram abertos 46 nichos no Cemitério do Araçá e as caixas foram retiradas do local. Todas as etapas foram fotografadas e as caixas acondicionadas em sacos plásticos e lacradas. A Polícia Federal e uma equipe de arqueologia acompanharam todo o processo de transporte.

As ossadas foram levadas para uma sala no subsolo da Procuradoria onde não há variação climática.

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