quinta-feira, 29 de agosto de 2019

MEMÓRIA E DIREITOS HUMANOS


O que distingue o perdão da memória? É o que pergunta, de forma insistente, o Filósofo francês Paul Ricoeur. O contexto de suas reflexões é o do Pós-Segunda Guerra Mundial. O cenário é o da destruição que atingiu toda a Europa. Ricoeur deixa essa questão em aberto.

No século 21, as guerras continuam e assumem novas formas. Mas o principal formato continua a ser aquele que coloca frente a frente oprimidos e opressores, ou seja, as elites enriquecidas e as massas empobrecidas, graças à hegemonia do capital. 

A resistência é real, mas não acumula os recursos suficientes para enfrentar a força do capitalismo.
Enquanto isto, as queimadas vão destruindo as florestas; a corrida armamentista só se expande; a fome faz novas vítimas, sobretudo na África. A cada hora, morrem de fome 3.500 crianças segundo dados da ONU.

De quem é a culpa?
Todos somos culpados pela situação do mundo hoje, seja por ação ou por omissão. Os gregos chamavam de idiotas ( idiotés) os homens e as mulheres que se omitiam diante dos problemas da pólis, isto é, as questões ligadas à guerra e a paz, que ocupavam quase todo o tempo de trabalho e de preocupações do povo grego. Imaginemos se hoje houvesse uma Grécia igual em tudo àquela do Mar Egeu... com toda certeza, a primeira atitude do povo grego na sua nova vida do século XXI seria a de distribuir diplomas de idiotice. A destruição da Amazônia... não me interessa; nem a matança cotidiana de crianças, na África; nem a morte por afogamento no Mediterrâneo de milhares de pessoas por ano na vã tentativa de atravessar em frágeis embarcações; nem a mentira da publicidade afeta o meu dia rotineiro. Gasta-se muito mais com propaganda comercial do que com projetos voltados para a vida... aliás para que serve a vida?

Existe então uma mentalidade predominantemente ante-vida e eu cidadão do campo e da cidade não consigo sair dessa onda mortífera. Se eu tenho tudo para adquirir consciência crítica. Mas não faço jus a essa possibilidade. Bastaria um gesto, uma atitude, que fizesse chegar à voz da minha consciência junto aos mais poderosos do meu país. Seria bastante o envio de um abaixo assinado ao presidente da república, manifestando a insatisfação crescente diante de seu desgoverno.

Nós certamente seremos chamados de “subversivos”, de “terroristas” e de “comunistas”. Mas isso não importa, não interessa.

OBS. A partir de agora estarei compartilhando toda semana essas reflexões! Espero que entrem em sintonia comigo para construirmos juntos a visão crítica da realidade!



Dermi Azevedo é jornalista, cientista político e escritor. É autor dos livros “Travessias Torturadas” e “Nenhum direito a menos”, graduado em Jornalismo pela UFRN (1979); Especialista em Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP (FSESP) com estudo sobre a política externa do Vaticano; Mestre em Ciência Política pela USP, com dissertação sobre o tema "Igreja e Ditadura Militar. Colaboração religiosa com a repressão de 1964”. Doutor em Ciência Política pela USP, com tese sobre “Igreja e Democracia. A democracia na igreja”, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Sérgio Pinheiro. É pai de Carlos Alexandre Azevedo, que foi preso político em 1974 com seus pais e foi torturado pelos policiais. Tinha apenas 1 ano e 8 meses e teve seus dentinhos quebrados pelos policiais ligados ao delegado Sérgio Fleury. Em fevereiro de 2013, Carlos cometeu suicídio com orvedose de medicamentos. E já vinha atribuindo seu sofrimento as seqüelas do crime que sofreu. É coordenador do Núcleo Maximiliano Kolbe de Direitos Humanos/NMK-SP.

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