Os Advogados para a Democracia também!
Acadêmicos de universidades conceituadas de São Paulo e do Rio de
Janeiro negaram-se publicamente a dar entrevistas para jornais, sites e
programas de TV da mídia tradicional por considerarem que os veículos de
comunicação têm fomentado a intolerância e uma posição considerada
golpista na cobertura da crise política atual.
O professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser foi
o primeiro a tornar a decisão pública, em seu perfil no Facebook, no
começo da tarde de ontem (22). Convidado por whatsapp por um jornalista a
comparecer aos estúdios da GloboNews para falar sobre os atentados no
metrô da Bélgica, o professor respondeu: “Não dou entrevista para um
canal que além de não fazer jornalismo incita a população ao ódio num
grave momento como esse”.
“Já faz 15 dias que eu não assisto porque é muito ruim, com
desqualificação das pessoas sem o menor direito de defesa. Não em
debate, as posições são sempre unânimes, sejam de jornalistas ou de
convidados”, disse Nasser em entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
“Não é uma questão de ideologia, mas de ética. Todo mundo tem o direito
de defender o impeachment da Dilma Rousseff, mas não dessa forma. Devem
tomar cuidado porque a história ensina que a violência volta contra
quem incita esse tipo de prática.”
Há mais de 10 anos Nasser participava de diversos debates na Rede
Globo, em especial no Painel da GloboNews, na área de política
internacional. “De uns dois ou três anos para cá isso vem mudando. Fui
editado duas vezes no programa, disseram que era tempo, mas depois
passei a ver que não se convidavam determinadas pessoas para ter certa
unanimidade no debate. Isso vem a calhar com a postura de quem recebe
áudios privados e joga para o público. É muita irresponsabilidade e não
posso concordar com isso”, afirmou.
Questionado se sua decisão não contribuiria ainda mais para tornar
hegemônico e conservador o debate na grande mídia, o professor avalia
que o convite de intelectuais mais progressistas é um “álibi” para que o
veículo de comunicação possa dizer que é plural.
“O canal fica fez horas mostrando algo distorcido, aí me chamam, eu
falo por dez minutos e minha fala vai aparecer como justificativa que
eles são plurais”, disse à RBA. “Vale discutir desde
que a discussão seja equilibrada e equânime. Não adianta ficar
sistematicamente jogando informações, aí um dia eu e outro colega vamos
até lá e falamos de outro ponto de vista por dez minutos.”
Na noite de ontem, o professor de Ciências Políticas da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) João Feres Junior também tornou
pública sua decisão de não divulgar pesquisas do Grupo de Estudos
Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do qual é coordenador, ao
portal G1, também ligado à Rede Globo.
“Não colaboramos mais com nenhuma mídia do grupo Globo. Vcs (sic)
querem dar um golpe na democracia brasileira e não contarão com a nossa
colaboração”, respondeu por e-mail. A conversa foi divulgada pelo
próprio professor, em seu perfil pessoal no Facebook.
Também ontem, o professor do curso de graduação em História na
Universidade de São Paulo (USP) Rafael Marquese negou-se a dar uma
entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, e divulgou sua
decisão no Facebook. “Poderia falar com todo prazer, mas não para a
Folha de SP (sic): ver meu nome impresso nela, nesse golpismo
desenfreado, no chance (sem chance, na tradução para o português).”
Sinai Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla, diretor de O Bandido da Luz Vermelha
(1968), negou ceder direitos de uso de trechos de filmes do autor para a
Fundação Roberto Marinho, ligada à Rede Globo. Seriam usadas partes de Sem Essa Aranha e Copacabana Mon Amour em uma mostra no novo Museu da Imagem e do Som (MIS), que será inaugurado em Copacabana, na capital fluminense.
Em texto divulgado ontem pela revista Fórum, Sinai afirma que
explicou que sua família não deseja “vincular a obra de Rogério
Sganzerla a uma instituição que estimula a violência e o desrespeito à
democracia”.
Procurada por telefone por funcionários da fundação, ela
lembrou que o pai “teve de deixar o Brasil por ter realizado estes
filmes sob a sombra de um golpe”.
Será que o campo progressista finalmente está aprendendo a lidar com a mídia quadrilheira???
ResponderExcluirSobre a fantasia de "ocupar espaços" na mídia. Isso eu fiz em 2001, quando a rbs me procurou para dar uma entrevista sobre o cartum no FSM. Perguntei a jornalista que me contatou como eu iria falar do Forum na rbs se a rbs era a representação acabada de tudo aquilo contra o que lutávamos no Fórum?
Eugênio Neves